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  • O Domingo: Cristo Rei

    O Domingo: Cristo Rei

    Reflexão

    Jesus, ao falar de si, costuma utilizar a expressão “Filho do Homem” em referência à visão do profeta Daniel. Os sacerdotes judeus interpretavam que aquele ser misterioso visto por Daniel entre as nuvens do céu era um rei, cujo poder, um dia, dominaria toda a humanidade. Esse rei teria uma soberania universal por ser o Messias anunciado pelos profetas – Messias que em grego quer dizer “Khristós”, ou seja, o ungido. Para ser rei, o escolhido precisava ser crismado. Jesus é para nós o “Khristós”, nosso Rei, o Ungido de Deus.

    Jesus falou muito do seu Reino, mas de forma velada e frequentemente por meio de parábolas, isto é, de comparações. Já dizia em Marcos: “Devo anunciar a Boa Notícia do Reino de Deus porque é para isso que eu fui enviado” (Mc1, 38). Falando assim, Jesus tinha que tomar muita precaução para não ser acusado de querer usurpar o poder romano fazendo-se rei, pois Ele teria sido perseguido pelos soldados do Império que ocupavam Jerusalém.

    Dominado pelo Império, o povo, lendo as profecias, vivia na esperança de poder ver reinar o verdadeiro Deus-Javé, como no tempo do famoso rei Davi. A expectativa dos apóstolos de Jesus era de ver seu mestre tomar posse um dia, ungido pelo Espírito Santo para ser um “Khristós” universal. É bom lembrar o que aconteceu na sinagoga de Nazaré, quando Jesus leu um trecho do profeta Isaías que dizia: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a Boa-Nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor. E, enrolando o livro, deu-o ao ministro e sentou-se; todos quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Ele começou a dizer-lhes: ‘Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir’ (Lc 4, 18-21, referindo-se a Is61, 1-2)”.

    Jesus, depois de ter falado do seu reino durante três anos, entrou pela última vez na cidade de Jerusalém e foi aclamado rei pelo povo. Para seus apóstolos a fama de Jesus que eles esperavam tinha chegado. Só faltava Jesus ser ungido e tomar posse, porém aquela esperança durou pouco. Na quinta feira daquela semana, Jesus fez um discurso de despedida no jantar da Páscoa. Depois, foi preso no Jardim das Oliveiras e compareceu diante do tribunal religioso do Sinédrio. Na madrugada do dia seguinte, Jesus foi levado para comparecer diante do governador Pilatos e foi condenado à morte. Por quê? Pilatos tinha perguntado: “Tu és o Rei do Judeus?”, ao que Jesus respondeu: “Você diz isso por si mesmo, ou foram os outros que lhe disseram isso a meu respeito? O meu Reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus servos teriam lutador para eu não ser entregue aos judeus. Mas agora meu reino não é daqui.”, Pilatos disse: “Então tu és rei?”. Jesus respondeu: “Você está dizendo: eu sou rei. Para isso nasci e vim ao mundo, para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade, ouve a minha voz” (Jo18, 33b-37).

    Jesus pregava um Reino Universal feito de valores interiorizados numa humanidade reformada, isto é, reciclada pelos valores do Amor e da Liberdade, Justiça e Paz, Esperança na Alegria; o Reino da Verdade, Fraternidade, Solidariedade e Eterno como na visão do profeta Daniel que lemos nesta liturgia.

    A liturgia nos fala muito do Reino. Por exemplo, no Creio rezamos: “E de novo há de vir em sua glória para julgar os vivos e os mortos; e o seu Reino não terá fim No Pai Nosso: “Venha a nós o Vosso reino”. No prefácio da Missa rezamos com as palavras: “Reino de verdade e vida, de santidade e graça, de justiça, amor e paz”. O reino de Deus está à serviço da verdade, justiça, fraternidade, convivência e da libertação integral do homem.

    O Reino cuja verdade Pilatos não quis saber na manhã em que Jesus compareceu diante dele, nós vamos vive-lo de novo a partir do Advento que se aproxima. O Reino de Deus não é deste mundo de seleção e de exclusão. Enquanto os poderosos traem, vendem-se, oprimem, machucam, corrompem-se, mentem, invejam, vingam-se, odeiam e matam, Jesus vem sempre para salvar e perdoar, não para desagravar Seu Pai, condenando a humanidade. O Pai não precisa de desagravo. O Filho de Deus encarnou plenamente o amor gratuito do seu Pai.

    Na visão apocalítica de São João, Jesus é o Filho do Homem corando a História da Humanidade (Ap1, 5-8). O Alfa e o Ômega.


     Pe. Lourenço, CSC

     
  • O Domingo: 31º Domingo Do Tempo Comum

    O Domingo: 31º Domingo Do Tempo Comum

    Reflexão

    Moisés coloca na boca do Senhor Deus as leis e os mandamentos que o povo de Israel deve pôr em prática. Dentre estes mandamentos, a Liturgia deste domingo escolheu no 6° capítulo do Deuteronômio, versículo 5°, o seguinte: “Amarás teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças”.

    As leis e mandamentos também voltam a aparecer no Evangelho escrito por Marcos, que é muito interessante. O diálogo entre Jesus e um doutor da lei serve muito bem para quem procura uma receita de vida fundamentalmente cristã. O que devemos fazer para viver perfeitamente nossa fé?

    A partir do diálogo, aquele mestre da lei muito inteligente e perfeccionista parece querer acertar sua vida conforme a vontade de Deus. A solução é cumprir todos os mandamentos. Entretanto, a maioria dos representantes das autoridades judaicas procura conversar com Jesus afim de contradizer seus ensinamentos. Já aquele mestre da lei, aproximando-se de Jesus, parece vir com boa intenção e todo o respeito, mas talvez achando que Jesus prioriza demais a vida das pessoas ao invés de priorizar a honra devida ao Deus Javé. Para aquele representante da lei, o primeiro mandamento é amar e dedicar-se totalmente a Deus, pois somente Javé é superior a todos os homens e merece nosso culto.

    Então, aquele doutor da lei, aproximando-se, perguntou a Jesus: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?”. Jesus respondeu: “O primeiro é este: Ouça, ó Israel! ‘O senhor, nosso Deus, é o único Senhor. É preciso amar o Senhor teu Deus com todo o coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com toda a tua força’”. E Jesus continuou dizendo: “O segundo mandamento é este: amarás teu próximo como a ti mesmo! Não existe outro mandamento maior que estes”.

    Portanto, segundo aquele doutor da lei, Jesus está muito certo, pois não há mandamento maior do que amar a Deus e ao próximo como a si mesmo. Então o doutor da lei, concordando com Jesus, descartou todos os deuses pagãos, que são apenas obras humanas. Portanto, somente Deus merece nossa adoração, nosso culto e nosso amor maior; amar a Deus vale muito mais do que oferecer holocaustos e sacrifícios. Este doutor da lei parece concordar plenamente com Jesus.

    Mas acontece que Jesus acrescentou dizendo: “Você não está longe do Reino de Deus”. Mas por quê? Como é que ele não está no Reino de Deus? Quer dizer que algo falta para que este homem, fundamentalmente religioso, possa pertencer ao Reino de Deus. O que existe de diferente no Reino de Deus? “Amar a Deus plenamente e amar ao próximo como a si mesmo” – o que Jesus quer além disso?

    Vamos tentar descobrir. Para amar a Deus verdadeiramente, será que é preciso amar também todo mundo, qualquer pessoa, pilantra, desconhecido? Quer dizer amar todo o ser humano sem exceção?

    O que Jesus quer é que as pessoas desejem bem a todo e qualquer ser humano. Não podemos agradar a Deus impedindo alguém de fazer parte da lista do Seu Amor, pois Deus ama a todos. É frustrar nosso pai do Céu não amar a humanidade toda que Ele ama! O Reino de Deus acontece na união de pessoas diferentes, não todas parecidas. Assim, “o próximo” é mais do que o semblante.  Todo o ser vivendo os valores do Reino pertence ao Reino. Não existe união sem amor, e não existe amor sem união. Deus é essencialmente amor; Ele não somente “tem” amor, mas Ele é amor por essência.

    O amor é a identidade de Deus. “Amemo-nos uns aos outros porque o amor vem de Deus e, sem o amor, não conhecemos a Deus, porque Deus é amor”. Ora, de todos os mandamentos de Deus, o primeiro é amar a Deus e o segundo é amar a todos os seres humanos. Neste sentido, quem não ama o irmão que vê, não ama a Deus que ele não vê. Não é possível agradar a Deus sem amar nossos irmãos. Conclusão: “Dizer que amamos Deus enquanto não amamos nossos irmãos é mentira” (Jo 4,20).


     Pe. Lourenço, CSC