O Domingo: Todos os Santos

Reflexão

Os santos são inumeráveis: São João fala em 144 mil. Este número para os judeus significava uma infinidade de gente. Eles contavam assim: 12 é um número perfeito. Já o múltiplo de 12 dá 144, que multiplicado por mil dá uma multidão que não dá mais para contar. Os santos na visão de São João estavam glorificando a Deus dizendo: “O louvor, a glória e a sabedoria, a ação de graças, a honra, o poder e a força pertencem ao nosso Deus para sempre”. Por que? Simplesmente porque toda aquela gente virou santo. Isto é, foi santificada graças a salvação em Jesus Cristo. Quem faz alguém santo é Deus pela Graça de Jesus Cristo!

Léon Bloy, um autor francês, escreveu: “há uma só tristeza no mundo, a de não ser santo”. O que é a santidade senão ação de Deus; uma Graça de Deus. É somente Ele quem santifica as pessoas pela graça santificante, a Vida nova merecida por Cristo para nós. Isso quer dizer que a santidade é uma herança recebida de Jesus Cristo, riqueza que ele conquistou para nós. São Paulo, na sua carta aos romanos, fala dessa riqueza nestes termos: “se somos filhos de Deus, somos também herdeiros – herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo” (Rm8, 17).

Portanto, para ser santo é preciso deixar Deus agir em nós! Quando a gente deixa mais chance para Deus agir através da gente, não podemos errar. Ao contrário, quando alguém se vangloria de ter feito uma coisa muito boa, Deus não tem vez para santificar aquela pessoa porque o orgulho não é compatível com a santidade.

O povo procura um santo forte, mas para quê? O que quer dizer um “santo forte”? Seria um exemplo de vida ou um distribuidor de favores? A verdade é que nenhum santo faz milagre, bem como nenhum santo é capaz de salvar como Jesus salva! É sempre Deus quem faz os milagres através dos santos, que são seus instrumentos e nossos intercessores. Um santo ou uma santa é uma ferramenta muito delicada que Deus utiliza para intervir na vida de quem pede ajuda. A “tecnologia de Deus” é servir-se dos santos que intercedem perto de Deus Pai para nosso bem. Portanto, ser santo é ter o ardente desejo de fazer o bem no mundo e de construir uma sociedade de amor, felicidade e justiça, isto é, colaborar na construção do Reino. A primeira condição para conseguir isso é romper com o próprio egoísmo da gente, buscando sempre a felicidade dos outros antes da realização de si próprio. É preciso renunciar ao orgulho e a cobiça para então, a partir daí, escolher a melhor receita ensinada e vivida por Jesus: as Bem-aventuranças narradas por São Mateus na liturgia deste domingo. Recordemos:

  • Bem-aventurados os pobres em espírito, isto é, as pessoas desapegadas das coisas materiais, que valorizam os assuntos espirituais. O pobre em espírito pode ser pobre mesmo ou ainda ter riquezas, mas sem agarrar-se a elas. Pode também existir no meio dos pobres aquele materialista desejando tornar-se um ricaço. Esse está longe da santidade.
  • Felizes os aflitos. Mas como? Os aflitos, no caso, são as pessoas compassivas, capazes de chorar, muito sensíveis à dor dos que sofrem perseguição ou injúria. A compaixão as torna solitárias.
  • Bem-aventurados os mansos. Ser manso diante de um mundo de tanta violência é ser santo mesmo sem desejo de vingar-se, evitando dar um soco em troca de uma ofensa.
  • Bem-aventurados aqueles que tem fome e sede de justiça num mundo de corrupção, roubo, desigualdade, fura-filas, entre outros…
  • Bem-aventurados os misericordiosos, isto é, gente capaz de perdoar a pessoa arrependida sem exigir punição.
  • Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. São pessoas sinceras, autênticas, transparentes, que não têm nada para esconder e sem falsidade alguma. Como é difícil encontrar pessoas verdadeiras, sem nenhuma hipocrisia.
  • Bem-aventurados os pacíficos e construtores da paz, pois serão chamados filhos de Deus.

A Igreja celebra a festa de todos os santos, mas todos nós somos chamados a sermos santos. A Igreja quer lembrar, de modo especial, os homens e mulheres que deixaram seu exemplo e testemunho como ‘modelo’ a ser imitado para a felicidade. Muitos santos tinham defeitos, como nós também temos, mas lutaram contra os excessos, buscando a conversão. Segundo São João da Cruz, santo triste é um tristesanto. Santa Dulce dos Pobres é um excelente exemplo de alegre santa. Santa Dulce dos Pobres, rogai por nós!


 Pe. Lourenço, CSC

 

 

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